09 fevereiro 2006

Manuel Alegre II

Após todo o cansaço e stress da campanha eleitoral, pareceu-me natural que Manuel Alegre tenha resolvido tirar uns dias de descanso. Depois de ir à consulta da Caixa, conseguiu facilmente que o seu médico de família lhe tivesse passado uns diazitos de baixa para poder recuperar forças, tão desgastado estava por uns intensos três ou quatro meses de acções de campanha e pré-campanha.

Agora, o que já não me pareceu tão natural foi o destino das suas férias. Não porque não considere o Alentejo um sítio notável para retemperar forças, no contacto com a Natureza; mas antes porque, tendo a possibilidade de voltar imediatamente à Assembleia da República, parece-me que não optou pelo melhor resort, pela melhor clínica de repouso.

Claro, na Assembleia da República não teria podido dedicar-se a essa bela actividade cinegética que consiste em disparar sobre umas quantas perdizes que andam mesmo a pedi-las. Ainda. Porque considero, pessoalmente, que é urgente os senhores deputados fazerem uma breve pausa na sua intensa e profícua actividade para legislarem sobre essa grave lacuna na Lei.

Julgo, contudo, que a caça, pura e dura, no hemiciclo da Assembleia da República, ainda que com forte apoio popular, iria encontrar graves resistências entre os próprios deputados, prevendo-se difícil a obtenção de uma clara maioria sobre tão ambicioso projecto. Assim sendo, proponho uma alternativa que reputo de magnífica: o paintball.

Dever-se-ia legislar sobre a possibilidade de os senhores deputados se dedicarem ao paintball durante os plenários. Obviamente, organizar-se-iam por bancadas partidárias, sendo que seria talvez curial fornecer armas mais precisas e eficazes aos grupos parlamentares mais pequenos de forma a equilibrar a contenda. Fazendo das suas bancadas e assentos, trincheiras, e podendo movimentar-se livremente pelo hemiciclo (ainda que sob as ordens do seu líder parlamentar e de acordo com a estratégia definida previamente pelo general na sede do partido), julgo que esta seria uma forma mais democrática de se decidirem os assuntos importantes da Nação.

As coisas passar-se-iam mais ou menos assim: um determinado grupo parlamentar, representado por um seu porta-voz, propunha determinada legislação ou medida (nesta fase, a contenda ainda não teria começado, a bem da boa percepção da moção). Após ter acabado de enunciar a sua proposta, o deputado em questão recolher-se-ia ao seu quartel-general e assim fariam todos os outros parlamentares. Dar-se-iam uns cinco minutos para reorganização e, a partir daí, declaravam-se abertas as hostilidades. As regras são conhecidas: quem for atingido por um projéctil, é eliminado. O senhor Presidente da Assembleia da República, declarado neutro, oficiava do alto da sua tribuna para que tudo decorresse de acordo com as mais elementares regras democráticas. No fim, se fosse o grupo parlamentar do senhor deputado que havia apresentado inicialmente a proposta a vencer, então a moção seria declarada aprovada; caso contrário, a moção seria rejeitada.

Isto teria óbvios benefícios: as audiências da Parlamento TV aumentariam exponencialmente, promovendo uma maior aproximação entre o cidadão eleitor e a actividade da Assembleia da República; na composição das listas eleitorais, os partidos preocupar-se-iam agora em empregar como factor de escolha, para além dos critérios da competência e do mérito, que já utilizam, o sentido estratégico e a condição física dos seus deputados, promovendo portanto na sociedade uma cultura de mente sã em corpo são, como já advogavam os Romanos; finalmente, o deputado Manuel Alegre não teria que, a contragosto, ausentar-se para o Alentejo para dar azo à sua vertente lúdica, convertendo-se rapidamente num dos mais conceituados snipers da República Portuguesa.

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