07 novembro 2006

Mau senso

Entre dois contentores do lixo, junto ao marco do correio, em frente à farmácia central, estava o meu automóvel. Estacionado. Eu estava lá dentro. Sentado.

Então o contentor do lixo à minha esquerda olhou para o seu congénere à minha direita, piscou-lhe o olho, o segundo retribuiu-lhe com um gesto com o polegar e, sincronizadamente, afastaram-se entre sorrisos. O marco do correio acenou com a cabeça em sinal de aprovação após o que desatou à gargalhada, atingindo-me.

Intimidado, amedrontado, desprezado, dei a volta à chave na ignição e convenci-a a ficar comigo. Juntos, pusemos o carro em andamento e, após percorrermos dois metros, parei o automóvel, abri a porta e saí de rompante, deixando o motor a trabalhar.

Entrei na farmácia central. Disse-lhes que o motor estava gripado. Não acreditaram. Intimidado, amedrontado, desprezado, comprei então uma ligadura elástica e um termómetro. Estava calor, confirmei. Saí triunfante, mas eis que deparo com um polícia a autuar o meu carro. Solidário, corri. E continuei a correr. Nunca mais vi o meu carro, desde então.


(Torci um tornozelo de propósito para poder usar a minha ligadura elástica. O dono do tornozelo, maldosamente, perseguiu-me com ameaças e insultos, ao pé coxinho).

(Continua quente, reparo).