01 março 2006

Óscares

Os Óscares estão aí. Este ano, ainda não vi nenhum dos filmes nomeados para a categoria de... hum... para nenhuma das categorias. Na verdade, à excepção dos filmes «Munich» e, principalmente, «Brokeback Mountain», também não li nada de substancial em relação a nenhum deles. Destes dois filmes que nomeei já ouvi e li, como é óbvio, variadíssimas coisas, não fossem eles tema de diversas controvérsias. Não retive quase nada para além do facto de «Brokeback Mountain» ser uma fita de cowboys gays e de «Munich» ser um filme em que os judeus aparecem como vingativos e maus. Não obstante, parece-me que reúno todas as condições para poder opinar clara e assisadamente, com tanto conhecimento de causa como o mais informado crítico de cinema. Assim, temos:

Brokeback Mountain – filme que retrata uma relação homo-erótica entre dois vaqueiros, ao longo dos anos (e veja-se como eu evito as piadas fáceis...), feito sobre o fio da navalha, mas evitando chocar ou ofender o espectador médio. Este, após ultrapassar o desconforto inicial de ver intimidades (ma non troppo...) entre dois machos supostamente varonis, a meio passa a torcer por um happy ending e acaba o filme desgostoso com a homofobia dos outros. À saída, anda à pancada com um gajo que o calcou.

Capote – gosto do título: Capote. É tonitruante. Baseado na vida do escritor Truman Capote, é aquilo que se convencionou chamar de biopic: em português, julgo que se poderia dizer filme biográfico; contudo, convenha-se que biopic é mais faustoso. Biopic será. O senhor Truman escreveu um livro chamado «A Sangue Frio» que foi um grande sucesso, baseado em factos reais. Portanto, escreveu um romance que pouco tinha de ficção. E esse foi o seu ovo de Colombo. Admiti-lo, quero dizer. Propagandeá-lo, até. Ou seja, aquilo que toda a gente até então fazia às escondidas, envergonhadamente, ele fê-lo de forma declarada. Depois dele, poucos lhe seguiram o exemplo: a maioria dos livros são pura ficção e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência...

Crash – julgo que traduziram para «Colisão», mas não garanto. A minha primeira reacção ao saber que «Crash» fora nomeado para um Óscar este ano foi de inteira perplexidade: mas então o «Crash» já não tem uns dez anitos? Depois percebi que não se tratava do filme de David Cronenberg, mas antes de um filme de 2005 de Paul Haggis. E tive pena...

Good Night and Good Luck – também gosto deste título. O meu sonho é escrever um livro cujo título seja «Adeus e Boa Tarde» ou «Até Amanhã e Obrigado» ou «Beijinhos e Abraços». Claro que com a Margarida Rebelo Pinto e afins a inundarem o mercado editorial com as suas fantásticas obras, se eu não me despachar, já não terei possibilidades de usar os títulos supra-mencionados (e vai daí, o Paul Haggis também chamou «Crash» ao seu filme). Foi aquele pediatra da série «ER» («Serviço de Urgência», creio) que o realizou e, por isso, deverá ser o favorito do público feminino.

Munich – é um filme de Steven Spielberg. Desta vez, porém, as coisas parecem não correr da usual forma delico-doce. Ou, pelo menos, algumas reacções não o foram. Aparentemente, o bom do Steven quis desbaratar o seu crédito junto dos judeus depois de ter sido incensado por estes após o filme «A Lista de Schindler». Conseguiu-o. Em «Munich», parece que os judeus só marginalmente são tratados como vítimas, o que, seguramente, muito os terá entristecido; a maior parte do tempo, eles são os algozes que procuram a vingança e prosseguem os seus fins criminosos sem olhar a meios, aplicando a Lei do talião. Uma lufada de ar fresco na cinematografia mundial. Pena ser um filme sem qualquer verosimilhança dado que não passa pela cabeça de ninguém que os judeus, alguma vez, sejam outra coisa que não vítimas da tirania alheia. Mas, pronto, também por isso é que esta obra ficou a cargo daquele que nos pôs a todos a chorar com a iminente morte de um extra-terrestre que, creio bem, também é coisa que está por provar existir...

O meu favorito? Até ver, «Brokeback Mountain». Está para a homossexualidade como «Philadelphia» esteve para a SIDA em 1993. Hum... e, afinal, quem ganhou foi «A Lista de Schindler», de Spielberg (mas, dessa vez, ele estava do lado certo da causa...).

2 Comentários:

At quinta mar. 02, 10:30:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At quinta mar. 02, 10:36:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Não tomo muita atenção aos óscares mas os filmes que vi agora em 2006 foram Match Point de Woody Alan e
achei que foi um filme muito bem conseguido e adorei o fim (unico problema foi que o filme foi demasiado longo para o meu gosto).
Depois, uma vez que li o livro Memórias de uma Geisha tive que ver o filme para satisfazer a minha curiosidade, quem leu o livro fica um pouco desiludido mas nem está mau de todo.

Gostei e ri-me ao de ler the post "Óscares".

Bom Cinema!

 

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